O
filme Escritores da Liberdade, dirigido por Richard
Lagravenese, foi lançado no ano de 2007, nos Estados Unidos, pelo Estúdio Paramount
Pictures. Com o título original Freedon Writer tem em seu elenco os atores
Scott Glenn, Hilary Swank e Patrick Dempsey. A história é baseada em fatos reais,
relatados no livro Diário dos
Escritores da Liberdade, publicado em 1999, mostram a trajetória da
professora Erin Gruwell, que estimula seus alunos a escreverem diários nos
quais contam suas histórias de vida.
No filme é narrada a história da professora
Erin Gruwell, filha de um antigo defensor dos direitos civis durante os distúrbios raciais
que ocorreram na cidade de Los Angeles, na Califórnia, em 1992. De acordo com a Wikipédia, os distúrbios de Los
Angeles, em 1992, foram desencadeados em 29 de abril de 1992, quando um júri
absolveu oficiais do Departamento de
Polícia de Los Angeles, três brancos e um hispânico, acusados de agressão
contra o motorista negro Rodney King, após uma perseguição em alta velocidade.
Toda a ação dos policiais foi filmada. Milhares de pessoas se revoltaram e
provocaram tumultos e manifestações ao longo de seis dias após o veredicto, configurando um conflito
racial. Durante esses acontecimentos, cinquenta e três pessoas morreram e
milhares de outras ficaram feridas. “Após o final
dos protestos, uma profunda reforma na polícia de Los Angeles foi realizada, o
que incluiu a demissão do chefe de polícia, e os policiais envolvidos foram
novamente julgados.”
Recém-graduada, Erin vai lecionar na Escola
Wilson, na turma 203, do 1º ano colegial. Nessa época, foi criada uma lei de
integração racial segundo a qual brancos, negros, hispânicos e asiáticos eram obrigados
a conviver no mesmo espaço.A Escola Wilson, que era considerada anteriormente
um centro de excelência, vê-se obrigada a receber esses alunos com o
comportamento totalmente inadequado e sem o devido preparo dos seus professores
para trabalhar com essa clientela.
A verdadeira Erin Grunwell
No ambiente escolar, os alunos acabam
reproduzindo as brigas de gangues, a discriminação, o preconceito e a
segregação racial existentes na sociedade. A professora Erin chega na escola
cheia de sonhos e ideais, mas se depara com essa chocante realidade e com a
difícil e desafiante tarefa de, além de ensinar a disciplina Língua e Literatura
Inglesa, ensiná-los a conviver uns com os outros.
Na verdade, esse tema sempre é
discutido nos cursos de pós-graduação: a questão do preparo do professor; os
cursos de graduação não preparam o professor para lidar com determinadas
situações que ocorrem em sala de aula e cabe ao professor, além de ter o
conhecimento e o domínio dos conteúdos que irá ensinar,também ter “jogo de
cintura” para enfrentar situações conflitantes como essas retratadas pelo
filme.
A professora Erin, mesmo não tendo
experiência em sala de aula (e talvez por isso mesmo!) estava disposta a ouvir,
a dialogar e a aprender como fazer para despertar o interesse dos alunos. Esse
é o nosso grande desafio: o mundo lá fora tem coisas muito mais atraentes para
o aluno que está interessado em ficar ligado no celular conversando com os
amigos do Facebook, do WhatsApp e de outras redes sociais, vendo os vídeos do
momento, os jogos da internet etc. Cabe a nós, professores, trazer os conteúdos
das disciplinas com uma nova roupagem, utilizando novas linguagens, quando
possível, integrando as novas tecnologias para tornar as aulas interessantes e
envolventes, e que esses conteúdos tenham significado.
No primeiro dia de aula, a professora Erin
testemunhou uma briga de gangues e teve que pedir ajuda de um segurança para
apaziguar os ânimos.
A briga
A partir daí, ela começou a observar que os alunos dentro
da sala de aula ou no pátio sempre se agrupavam por etnias: negros, orientais,
hispânicos e brancos não se misturavam; então, ela resolveu aplicar uma
dinâmica, o jogo da linha, no qual ela citava alguma característica e, caso os
alunos se identificassem com ela, se aproximariam da linha ou, se ocorresse o
contrário, se afastariam da linha. Ela proporcionou àqueles alunos a
oportunidade para que se observassem, que olhassem um para o outro enxergando
as semelhanças que os aproximavam.
E o que aquela dinâmica tinha a ver com
a disciplina Língua e Literatura inglesa? Nada! Mas, para ensinar a disciplina,
primeiro ela tinha que trabalhar e amenizar os conflitos existentes na sala de
aula, aproximando os alunos uns dos outros e dela mesma. Essa cena demonstra a
sensibilidade que o professor precisa ter para enxergar o aluno como ser humano
com sentimentos, problemas, conflitos e que a agressividade é apenas uma forma
de demonstrar que algo não está bem. E, se as coisas não estão bem, é lógico
que o aluno não vai conseguir manter a atenção em disciplinas que em
determinados momentos não lhes dizem nada.
Essa é outra discussão que sempre
ocorre nos cursos de pós-graduação: o professor é pago apenas para ensinar a
disciplina, ele não tem que aplicar técnicas e dinâmicas como fez essa
professora do filme; “isso é tarefa para psicólogos, psicopedagogos, terapeutas
grupais etc.” Particularmente, eu não compartilho com essas opiniões, acho que
devemos fazer o que for necessário para trazer o aluno para perto, para
despertar-lhes o interesse e oportunizar situações de aprendizagem.
Outra cena muito interessante é quando
ela propõe a escrita de um diário no qual eles contariam suas histórias de vida
ou, simplesmente, o que quisessem escrever. Os alunos, no princípio mostram-se
desconfiados pensando, talvez, “o que essa professora quer saber das nossas
vidas e por quê?”. Mas, em outro momento de sensibilidade, ela deixa claro que
não lerá os diários a menos que seja autorizada por eles: os alunos que
quisessem que seus diários fossem lidos deveriam deixá-los dentro de um armário
que seria trancado ao final de cada aula. Um dia, a professora abre o armário
e, para sua surpresa, todos os diários estavam lá, ou seja, ela conseguiu
conquistar a confiança de modo que eles quiseram que suas histórias fossem
lidas por ela.
Além disso, ao invés de ensinar a
gramática da língua inglesa, ou seja, a teoria, ela propôs aos alunos que
escrevessem seus próprios textos, que utilizassem a língua na prática. Com essa
atitude, ela conseguiu envolvê-los em uma atividade que tinha significado e
sentido para eles: escrever sua própria história.
Apesar de todo o esforço feito pela professora Erin
para amenizar os conflitos na sala de aula, eles continuaram ocorrendo. Um
certo dia, uma caricatura desenhada por um dos alunos da turma para humilhar um
outro estudante, que era negro, circula
pela sala até que vai parar em suas mãos. Então, indignada, a professora faz um
paralelo entre os conflitos raciais dos Estados Unidos daquela época e o
holocausto ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, praticado pela raça que se
considerava “pura”, a raça ariana, contra judeus, negros, homossexuais ou
qualquer raça que fosse considerada inferior pelos nazistas. Nesses contextos,
tanto nos conflitos raciais dos Estados Unidos quanto no Holocausto ocorrido na
Segunda Guerra Mundial, o preconceito e o racismo baseados nas diferenças
fizeram com que o “diferente” fosse visto como inimigo que precisava ser
eliminado.
Anne Frank
Senhora Miep Gies
Durante a resenha, eu acabei utilizando
muito a palavra “propôs” devido ao fato de que a professora Erin não impunha as
atividades; ela lançava propostas de atividades que eram discutidas com os
alunos. Então, quando ela propõe que redijam cartas para a senhora Miep Gies, apenas como atividade escolar, logo um aluno sugere
que as cartas sejam realmente enviadas e outro sugere, ainda, que a própria
Sra. Miep seja trazida até a escola para conversar com os alunos. Ou seja,
assim nasce um projeto, através do diálogo e das sugestões dos alunos
envolvidos.
Para todas as dificuldades encontradas,
os próprios alunos e a professora buscavam soluções, como, por exemplo, o
levantamento de fundos que foi realizado através de feiras onde foram vendidos
produtos, o que contribuiu para a arrecadação. E, o resultado é que eles
conseguiram trazê-la até a escola e o encontro foi emocionante.
Visita da Senhora Miep Gies à Escola Wilson
Este é um filme emocionante e
inspirador para a nossa prática, pois mostra que o aluno aprende fazendo e que
ele precisa atribuir sentido ao que está fazendo, ao que está aprendendo.
Durante o percurso da professora Erin na Escola Wilson, ela encontrou
barreiras, incompreensão e falta de apoio da parte de seus familiares, dos seus superiores e dos próprios colegas de
profissão, mas isso apenas a impulsionou para que prosseguisse fazendo aquilo
que ela acreditava ser o correto. Num trecho do filme, uma aluna chamada Eva
agressivamente pergunta à professora: “O que você faz aqui dentro que muda
alguma coisa na minha vida?” A resposta é simples: mais do que ensinar língua e
literatura, Erin compartilhou com aqueles alunos valores como o respeito às
diferenças, a tolerância, a aceitação de si mesmos e dos outros, transformando-os em pessoas melhores.
Referências: