quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Éle Semog, Poeta Negro

SE ELA FAZ, EU DESFAÇO

A treze de maio
fica decretado
luto oficial na comunidade negra
e serão vistos com maus olhos
aqueles que comemorarem festivamente
eesse treze inútil
e fica o lembrete:
liberdade se toma
não se recebe
dignidade se adquire
não se concede.
Éle Semog, 1976

Li esse poema nos Cadernos Negros, não me lembro bem qual número, e amei! Procurei pesquisar quem era o autor pois nunca tinha lido nada desse autor: Éle Semog.

Éle Semog
Éle Semog, como é conhecido Luís Carlos Amaral Gomes, poeta, escritor e ativista do Movimento Social Negro, nasceu na cidade de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Passou a infância e a adolescência nos bairros Vila Valqueire e Bangu, no subúrbio carioca. 

Segundo informações colhidas no próprio site do escritor, ele começou a trabalhar aos 17 anos, após a morte do pai e seu primeiro emprego formal foi na construção civil. Nesse período, com o apoio de um engenheiro, começou um trabalho de alfabetização na obra, ensinado os operários que não sabiam ler. 

Além disso, estimulava os companheiros para que se filiassem ao Sindicato, mesmo sabendo que não era um dos mais combativos.
Na década de 1970, fez parte do grupo Garra Suburbana, no qual publicou seus primeiros poemas mimeografados. Associou-se, em 1974, a uma das primeiras organizações negras fundadas durante o período da ditadura militar no Brasil: o Instituto de Pesquisas e Cultura Negra – IPCN. Na década de 1980, ajudou a fundar o jornal Maioria Falante e, também, o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas - CEAP, do qual foi presidente. Participou de vários livros e antologias e com o conto infantil “O nariz e a borboleta voa-voa” recebeu menção especial da União Brasileira de Escritores, em 1982.

Éle Semog participou da organização, juntamente com outros poetas do I, II e III Encontro Nacional de Poetas e Ficcionistas Negros Brasileiros, realizados no Rio de Janeiro e em São Paulo. Foi convidado como conferencista em duas Bienais Nestlé de Literatura, na cidade de São Paulo, do I Simpósio Internacional sobre Cultura Angola, na cidade do Porto, em Portugal, em 1982, do Programa de Celebrações e Reflexões dos 500 Anos de Descobrimento das Américas, conferências realizadas em 22 cidades da República Federal da Alemanha, em 1992 e do Congresso Internacional de Literatura Comparada, na cidade de Salvador, em 1998.

Semog pratica a militância através da literatura. Fundou os grupos “Negrícia Poesia e Arte de Crioulos” e “Bate Boca de Poesia” com os quais “realizou recitais e oficinas de literatura em escolas, universidades, sindicatos, presídios, hospitais, associações de moradores de favelas, teatros, na rua e nos trens da Central.” Alguns de seus poemas foram musicados por compositores como Irinéia Maria, Teo de Oliveira, Mauro Marcondes e Laércio Lino.

O autor busca dar voz às populações marginalizadas que até hoje têm que lutar para se ver representadas na nossa sociedade. Seus poemas são, de certa forma, autobiográficos. De acordo com Lejeune, “o espaço autobiográfico compreende o conjunto de todos os dados que circulam ao redor da ideia do autor: suas memórias e biografias seus (auto) retratos e suas declarações sobre sua própria obra.”

É o que Walter Benjamin denonina de literatura a contrapelo mostrando a realidade da população afrodescendente vitimizada pelos acontecimentos do nosso passado histórico. 

Benjamin (1987) diz o seguinte:
Ora, os que num momento dado dominam são os herdeiros de todos os que venceram antes. A empatia com o vencedor beneficia sempre, portanto, esses dominadores. [...] Todos os que até hoje venceram participam do cortejo triunfal, em que os dominadores de hoje espezinham os corpos dos que estão prostrados no chão. Os despojos são carregados no cortejo, como de praxe. Esses despojos são o que chamamos bens culturais. [...]Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie. E, assim como a cultura não é isenta de barbárie, não o é, tampouco, o processo de transmissão da cultura. [...] (BENJAMIN, 1987, p. 222-232)

Para a ensaísta Soares Fonseca,

Assumir-se negro numa sociedade cujos referenciais de beleza passam pelos traços europeus, que também nela se mostram, é uma atitude de enfrentamento quase sempre diagnosticada como decorrente de rancor que não tem motivo para existir. Em vez de lidar com as formas discriminatórias que produz, o senso comum descarta a questão porque acredita que vivemos numa sociedade que não tem preconceitos. O mito da democracia racial continua a se perpetuar entre nós. (FONSECA, 2011, p. 13).
Para Fonseca, o discurso que acaba prevalecendo e que circula na sociedade brasileira é o discurso hegemônico contra o qual alguns escritores negros têm se insurgido para mostrar a voz das minorias que durante muito tempo foi calada.
      Ainda segundo esse teórico
Assumir-se negro numa sociedade cujos referenciais de beleza passam pelos traços europeus, que também ela se mostram, é uma atitude de enfrentamento quase sempre diagnosticada como decorrente de rancor que não tem motivo para existir. Em vez de lidar com as formas discriminatórias que produz, o senso comum descarta a questão porque acredita que vivemos numa sociedade que não tem preconceitos. O mito da democracia racial continua a se perpetuar entre nós. (FONSECA, 2011, p. 13). 
Outro poema de Semog:



Engenhosa violência a do sistema,
que arrancava d’África os negros,
diziam ser aquele gentio peças das índias,
e os transportavam em fétidos tumbeiros.
Com sincera fé católica e voraz volúpia
por quase quatro séculos
Portugal, seu rei, suas elites,
construíram a história mais triste
que a humanidade tem para contar.
(SEMOG, 2010, p. 80)

   A autora Beatriz Rezende em seu texto “A literatura brasileira num mundo de fluxos” aponta que a literatura de autores emergentes tem como uma das características o predomínio de um tom autocentrado, o que faz com que sejam frequentemente acusados de praticar uma literatura egótica. Éle Semog, apesar de em seus poemas se referir a uma história coletiva, a história das populações marginalizadas, também faz referência à sua própria história.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Resenha do filme Escritores da Liberdade






     O filme Escritores da Liberdade, dirigido por Richard Lagravenese, foi lançado no ano de 2007, nos Estados Unidos, pelo Estúdio Paramount Pictures. Com o título original Freedon Writer tem em seu elenco os atores Scott Glenn, Hilary Swank e Patrick Dempsey. A história é baseada em fatos reais, relatados no livro Diário dos Escritores da Liberdade, publicado em 1999, mostram a trajetória da professora Erin Gruwell, que estimula seus alunos a escreverem diários nos quais contam suas histórias de vida.

    No filme é narrada a história da professora Erin Gruwell, filha de um antigo defensor dos direitos civis durante os distúrbios raciais que ocorreram na cidade de Los Angeles, na Califórnia, em 1992. De acordo com a Wikipédia, os distúrbios de Los Angeles, em 1992, foram desencadeados em 29 de abril de 1992, quando um júri absolveu  oficiais do Departamento de Polícia de Los Angeles, três brancos e um hispânico, acusados de agressão contra o motorista negro Rodney King, após uma perseguição em alta velocidade. Toda a ação dos policiais foi filmada. Milhares de pessoas se revoltaram e provocaram tumultos e manifestações ao longo de seis dias     após o veredicto, configurando um conflito racial. Durante esses acontecimentos, cinquenta e três pessoas morreram e milhares de outras ficaram feridas. “Após o final dos protestos, uma profunda reforma na polícia de Los Angeles foi realizada, o que incluiu a demissão do chefe de polícia, e os policiais envolvidos foram novamente julgados.”
Recém-graduada, Erin vai lecionar na Escola Wilson, na turma 203, do 1º ano colegial. Nessa época, foi criada uma lei de integração racial segundo a qual brancos, negros, hispânicos e asiáticos eram obrigados a conviver no mesmo espaço.A Escola Wilson, que era considerada anteriormente um centro de excelência, vê-se obrigada a receber esses alunos com o comportamento totalmente inadequado e sem o devido preparo dos seus professores para trabalhar com essa clientela.

A verdadeira Erin Grunwell

No ambiente escolar, os alunos acabam reproduzindo as brigas de gangues, a discriminação, o preconceito e a segregação racial existentes na sociedade. A professora Erin chega na escola cheia de sonhos e ideais, mas se depara com essa chocante realidade e com a difícil e desafiante tarefa de, além de ensinar a disciplina Língua e Literatura Inglesa, ensiná-los a conviver uns com os outros.
Na verdade, esse tema sempre é discutido nos cursos de pós-graduação: a questão do preparo do professor; os cursos de graduação não preparam o professor para lidar com determinadas situações que ocorrem em sala de aula e cabe ao professor, além de ter o conhecimento e o domínio dos conteúdos que irá ensinar,também ter “jogo de cintura” para enfrentar situações conflitantes como essas retratadas pelo filme.
A professora Erin, mesmo não tendo experiência em sala de aula (e talvez por isso mesmo!) estava disposta a ouvir, a dialogar e a aprender como fazer para despertar o interesse dos alunos. Esse é o nosso grande desafio: o mundo lá fora tem coisas muito mais atraentes para o aluno que está interessado em ficar ligado no celular conversando com os amigos do Facebook, do WhatsApp e de outras redes sociais, vendo os vídeos do momento, os jogos da internet etc. Cabe a nós, professores, trazer os conteúdos das disciplinas com uma nova roupagem, utilizando novas linguagens, quando possível, integrando as novas tecnologias para tornar as aulas interessantes e envolventes, e que esses conteúdos tenham significado.
No primeiro dia de aula, a professora Erin testemunhou uma briga de gangues e teve que pedir ajuda de um segurança para apaziguar os ânimos. 


A briga 

A partir daí, ela começou a observar que os alunos dentro da sala de aula ou no pátio sempre se agrupavam por etnias: negros, orientais, hispânicos e brancos não se misturavam; então, ela resolveu aplicar uma dinâmica, o jogo da linha, no qual ela citava alguma característica e, caso os alunos se identificassem com ela, se aproximariam da linha ou, se ocorresse o contrário, se afastariam da linha. Ela proporcionou àqueles alunos a oportunidade para que se observassem, que olhassem um para o outro enxergando as semelhanças que os aproximavam.
E o que aquela dinâmica tinha a ver com a disciplina Língua e Literatura inglesa? Nada! Mas, para ensinar a disciplina, primeiro ela tinha que trabalhar e amenizar os conflitos existentes na sala de aula, aproximando os alunos uns dos outros e dela mesma. Essa cena demonstra a sensibilidade que o professor precisa ter para enxergar o aluno como ser humano com sentimentos, problemas, conflitos e que a agressividade é apenas uma forma de demonstrar que algo não está bem. E, se as coisas não estão bem, é lógico que o aluno não vai conseguir manter a atenção em disciplinas que em determinados momentos não lhes dizem nada.
Essa é outra discussão que sempre ocorre nos cursos de pós-graduação: o professor é pago apenas para ensinar a disciplina, ele não tem que aplicar técnicas e dinâmicas como fez essa professora do filme; “isso é tarefa para psicólogos, psicopedagogos, terapeutas grupais etc.” Particularmente, eu não compartilho com essas opiniões, acho que devemos fazer o que for necessário para trazer o aluno para perto, para despertar-lhes o interesse e oportunizar situações de aprendizagem.
Outra cena muito interessante é quando ela propõe a escrita de um diário no qual eles contariam suas histórias de vida ou, simplesmente, o que quisessem escrever. Os alunos, no princípio mostram-se desconfiados pensando, talvez, “o que essa professora quer saber das nossas vidas e por quê?”. Mas, em outro momento de sensibilidade, ela deixa claro que não lerá os diários a menos que seja autorizada por eles: os alunos que quisessem que seus diários fossem lidos deveriam deixá-los dentro de um armário que seria trancado ao final de cada aula. Um dia, a professora abre o armário e, para sua surpresa, todos os diários estavam lá, ou seja, ela conseguiu conquistar a confiança de modo que eles quiseram que suas histórias fossem lidas por ela.
Além disso, ao invés de ensinar a gramática da língua inglesa, ou seja, a teoria, ela propôs aos alunos que escrevessem seus próprios textos, que utilizassem a língua na prática. Com essa atitude, ela conseguiu envolvê-los em uma atividade que tinha significado e sentido para eles: escrever sua própria história.
Apesar de todo o esforço feito pela professora Erin para amenizar os conflitos na sala de aula, eles continuaram ocorrendo. Um certo dia, uma caricatura desenhada por um dos alunos da turma para humilhar um outro  estudante, que era negro, circula pela sala até que vai parar em suas mãos. Então, indignada, a professora faz um paralelo entre os conflitos raciais dos Estados Unidos daquela época e o holocausto ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, praticado pela raça que se considerava “pura”, a raça ariana, contra judeus, negros, homossexuais ou qualquer raça que fosse considerada inferior pelos nazistas. Nesses contextos, tanto nos conflitos raciais dos Estados Unidos quanto no Holocausto ocorrido na Segunda Guerra Mundial, o preconceito e o racismo baseados nas diferenças fizeram com que o “diferente” fosse visto como inimigo que precisava ser eliminado.

Anne Frank

Como desdobramento dessa aula, ela propõe uma atividade na qual cada aluno escreveria cartas para a Senhora Miep Gies, que durante a Segunda Guerra Mundial escondeu a família de Anne Frank em um edifício. A punição para os cidadãos que abrigassem ou escondessem judeus era serem enviados para os campos de concentração ou a morte, mas ela não se intimidou com essas possibilidades de punição e os ajudou.

Senhora Miep Gies

Durante a resenha, eu acabei utilizando muito a palavra “propôs” devido ao fato de que a professora Erin não impunha as atividades; ela lançava propostas de atividades que eram discutidas com os alunos. Então, quando ela propõe que redijam cartas para a senhora Miep Gies, apenas como atividade escolar, logo um aluno sugere que as cartas sejam realmente enviadas e outro sugere, ainda, que a própria Sra. Miep seja trazida até a escola para conversar com os alunos. Ou seja, assim nasce um projeto, através do diálogo e das sugestões dos alunos envolvidos.
Para todas as dificuldades encontradas, os próprios alunos e a professora buscavam soluções, como, por exemplo, o levantamento de fundos que foi realizado através de feiras onde foram vendidos produtos, o que contribuiu para a arrecadação. E, o resultado é que eles conseguiram trazê-la até a escola e o encontro foi emocionante.


Visita da Senhora Miep Gies à Escola Wilson

Este é um filme emocionante e inspirador para a nossa prática, pois mostra que o aluno aprende fazendo e que ele precisa atribuir sentido ao que está fazendo, ao que está aprendendo. Durante o percurso da professora Erin na Escola Wilson, ela encontrou barreiras, incompreensão e falta de apoio da parte de seus familiares,  dos seus superiores e dos próprios colegas de profissão, mas isso apenas a impulsionou para que prosseguisse fazendo aquilo que ela acreditava ser o correto. Num trecho do filme, uma aluna chamada Eva agressivamente pergunta à professora: “O que você faz aqui dentro que muda alguma coisa na minha vida?” A resposta é simples: mais do que ensinar língua e literatura, Erin compartilhou com aqueles alunos valores como o respeito às diferenças, a tolerância, a aceitação de si mesmos e dos outros, transformando-os em pessoas melhores.




Referências:





segunda-feira, 30 de março de 2015

Resenha do filme: O dia em que Dorival encarou a guarda



Disponível em: www.youtube.com/watch?v=zRO1HIVkFTc


Escrevi esta resenha no ano de 2013 como trabalho individual referente à disciplina Leitura de Produções Artísticas, do curso de Letras Vernáculas da Universidade Federal da Bahia, para obtenção da nota do semestre.
O dia em que Dorival encarou a guarda é um filme de curta-metragem, com duração de 14 minutos, realizado em 1986 e dirigido por José Pedro Goulart e Jorge Furtado.
O filme é uma adaptação do livro O amor de Pedro por João, com argumento de Tabajara Ruas e conta a história de Dorival que está encarcerado num quartel, sendo provável, portanto, que ele seja um soldado passando por um processo disciplinar. Dorival chama um praça que passava pelo corredor da carceragem e pede que ele o deixe tomar uma ducha fria, pois está há dez dias sem tomar banho, graças a uma ordem que o proíbe de tomar banho durante o dia.
O soldado recusa-se a atender ao pedido de Dorival, mandando que ele fique quieto e vá dormir, dizendo que existiam ordens para que não lhe fosse permitido o banho durante o dia. Dorival insiste argumentando que a proibição é para o período diurno e, já que é noite, não há razão para não deixá-lo tomar banho.
Diante da recusa do carcereiro em atender o seu pedido, Dorival começa a gritar, a berrar dizendo que vai fazer um escândalo tão grande que vai acordar todo o quartel. Pede, aos berros, que o soldado chame seu superior. Não sem antes ofendê-lo, chamando-o de "barata descascada", "polaco comedor de sabão", "catarina", "barriga verde", mostrando que, assim como há preconceito em relação à raça negra por parte dos brancos (demonstrado através de xingamentos como "macaco", "gorila", "crioulo", dentre outros), o negro também sabe expressar preconceito através de xingamentos ofensivos.
 Durante o curta são inseridas imagens que nos remetem a determinados estereótipos que circulam na sociedade, do tipo “ordens são ordens, não devemos questioná-las”, “a raça branca é superior”, “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”, dentre outros. Ocorre uma intertextualidade, um diálogo entre o texto fílmico e as imagens de filmes antigos que permitem a leitura e a identificação desses estereótipos.

Segundo SANTANA,


No que concerne aos elementos indexicais, aqueles que funcionam como traços de outros, podemos colocar os sinais de intertextualidade, bem como algumas outras referências que apontam tanto para a narrativa quanto para o que é exterior a ela. Além disso, marcas como focalização, a narração sequencial, os nomes e as referências intertextuais parecem apontar tanto para a própria narrativa do romance quanto para objetos exteriores, atuando na interface entre o estático e a realidade sensorial e intelectual. A focalização permite jogar com o conhecimento do leitor, com aquilo que ele sabe e o que fica à sombra. (Santana, 2009, p. 35)


Dorival é um personagem negro, alto, corpulento. O praça é branco, altura mediana e franzino. Quando Dorival começa a berrar é inserida a imagem de um gorila pulando, gritando e batendo no peito, ou seja, foi feita uma comparação entre o personagem e o gorila.
Sequencialmente, também é inserida a imagem de um cantor também negro, que nos remete à afirmação de que o negro sempre transforma suas reclamações, lamentos e angústias em música, ou seja, "tudo dá samba".
O praça chama o cabo, que chama o sargento, que chama o tenente. Nenhum deles atende ao pedido do Dorival que, cada vez mais indignado, cospe no rosto do tenente. Dorival então lhes comunica que não existe nenhuma ordem para que ele não tome banho: foi um carcereiro que não gostava dele quem espalhou pelo quartel que havia tal ordem. Dorival, na verdade, põe à prova a autoridade dos seus superiores quando os ofende e desrespeita, questionando também a máxima de que uma ordem dada deve ser obedecida, sem questionamentos.
Dorival rebela-se contra o sistema, contra a hierarquia militar e sofre as consequências de seus atos. Mas, apesar de questionar o rígido sistema militar, de chamar todos os seus superiores de “merda”, em determinados momentos Dorival modifica sua postura de acordo com o militar a quem se dirige, mostrando que ele também está subordinado à hierarquia. Ao soldado, ele se dirige de maneira mais informal enquanto que para o cabo, o sargento e o tenente utiliza expressões que demonstram respeito como “o senhor”, “por favor”, “queria pedir licença” etc. Só quando constata que seu pedido não será atendido é que agride a todos indistintamente chamando-os de “paus mandados” e  “merda”.
Ainda de acordo com SANTANA,  


A partir da apresentação dos personagens, das suas falas, do enredo, na ordem e no modo como isso é feito, o leitor decifra e forma juízo a respeito da história. Uma característica normalmente presente no romance é a pluralidade de vozes, que não somente a do autor. Tons e opiniões diversos, frequentemente antagônicos, estão presentes.  Existe um plurilinguismo social e, a depender da temática, a presença de vozes de culturas diversas. As diversas vozes presentes na materialidade do texto indicam um determinado contexto social e histórico ao qual o discurso está associado. (SANTANA, 2009, p.33)


Qualquer semelhança com o sistema prisional brasileiro não é mera coincidência. Em vez de investigação inteligente utiliza-se a tortura como meio para obter confissões e para obter também o respeito às “autoridades”. E há quem defenda essa forma de atuação das autoridades, militares e policiais, para a manutenção da lei e da ordem.
O tenente que levou a cusparada no rosto, apesar de já estar acompanhado por quatro soldados, manda buscar reforços. Diz ao praça que dois homens são o suficiente para "dar uma lição" no prisioneiro rebelde, mas o soldado retorna acompanhado por quatro soldados. Então, o tenente ordena que a cela seja aberta. Diz para seus subordinados que é somente para dar algumas porradas no prisioneiro para que ele aprenda a respeitar a autoridade. Os oito soldados partem para cima de Dorival que, como bicho acuado, começa a gritar. Os soldados começam a golpeá-lo batendo nele sem a menor piedade, parando somente quando constatam que ele está desmaiado.
Como havia muito sangue na cela, o tenente ordena que seja feita a limpeza do local. Para que isso ocorra, torna-se necessária a retirada do prisioneiro. Daí, Dorival é carregado para o banheiro onde, finalmente, consegue tomar banho. Ironicamente, o cidadão só teve sua reivindicação atendida após ser agredido covardemente, até quase à morte, numa luta desigual e injusta.


Texto referência:

SANTANA, Sérgio Ricardo Lima de. As várias faces de Riplay: entre a literatura e as adaptações cinematográficas. 2009. 205f. Tese (Doutorado em Letras). UFBA, Salvador.























domingo, 20 de outubro de 2013

Bullying e Ciberbullying



A palavra bullying provém da palavra da língua inglesa “bully”, que significa “intimidar”. O bullying caracteriza-se pela incidência de agressões físicas e psicológicas, chantagens, o uso de apelidos inconvenientes, geralmente destacando algum defeito da pessoa, a depreciação de objetos pessoais da vítima, insultos, acusações infundadas, críticas recorrentes sobre a família, a aparência física, a sexualidade, as crenças, a etnia, a classe social, o local de moradia e as características comportamentais da vítima. (Wikipédia, 2013)
        São atitudes ameaçadoras que dificultam ou até mesmo impedem um saudável desenvolvimento físico e emocional das vítimas. Quanto mais longa a exposição à agressão, maiores são os traumas provocados. A criança ou o adolescente pode apresentar sinais como irritabilidade, agressividade, introspecção, queda no rendimento escolar e até desenvolver síndromes, como a síndrome do pânico, e ter medo generalizado. Sendo assim, é preciso desenvolver atividades que previnam e diminuam a incidência desse tipo de violência nas escolas.

Essa imagem reflete o sofrimento da vítima do bullying, que muitas vezes busca o isolamento e a solidão.

A médica e autora do livro Bullying: Mentes Perigosas na Escola identifica algumas doenças que também aparecem devido a tendências pessoais, mas que podem ser resultantes desses relacionamentos conflituosos como a angústia, ataques de ansiedade, transtorno do pânico, depressão, anorexia e bulimia, além de fobia escolar e problemas de socialização. Segundo ela, a situação pode, inclusive, levar ao suicídio.
Lidar com o Bullying que ocorre dentro dos muros da escola não é tarefa fácil e torna-se mais árdua ainda quando acontecem casos semelhantes no mundo virtual. O Cyberbullying, como é denominado essa outra faceta do Bullying, costuma ser observado, por exemplo, em redes sociais, chats, e-mails de grupos e celulares. O ambiente virtual facilita e favorece a ação do agressor, uma vez que é possível agir no anonimato, ao omitir sua identidade, tornando difícil a sua identificação e colaborando para a impunidade.


Muitos agressores preferem praticar o ciberbullying, pois, numa atitude covarde, pode esconder-se atrás do anonimato das redes sociais.
Beatriz Santomauro (2010), jornalista da Revista Nova Escola, numa reportagem intitulada Violência Virtual, relata que:
Na internet e no celular, mensagens com imagens e comentários depreciativos se alastram rapidamente e tornam o bullying ainda mais perverso. Como o espaço virtual é ilimitado, o poder de agressão se amplia e a vítima se sente acuada mesmo fora da escola. E o que é pior: muitas vezes, ela não sabe de quem se defender.
Inicialmente a jornalista relata que é bastante comum entre crianças e jovens a implicância, a discriminação, a colocação de apelidos,  e que as agressões verbais e físicas são frequentes. Diz, ainda que esse comportamento não é novo mas que há cerca de 15 anos  essas provocações passaram a ser vistas como uma forma de violência e ganharam o nome: bullying. A principal característica dessa forma de violência é sua repetição sem uma motivação específica.
A utilização da tecnologia por meio de mensagens negativas em sites de relacionamento, torpedos com fotos e/ou textos constrangedores para a vítima, o envio de e-mails ameaçadores ou Cyberbullying vem aumentando rapidamente aqui no Brasil.
Uma pesquisa feita em 2010 pela organização não governamental Plan com cinco mil estudantes brasileiros de 10 a 14 anos aponta que 17% já foram vítimas de Cyberbullying no mínimo uma vez. Desses, 13% foram insultados pelo celular e os 87% restantes por texto e imagens enviados por e-mail ou via sites de relacionamento. (NOVA ESCOLA, nº 233)



Quando detectadas essas situações de bullying ou Cyberbullying, a escola precisa tomar uma série de providências: investigar a questão, chamar a família para ouvir os relatos da criança ou do adolescente agredido, conversar também com o agressor e sua família, indicar o acompanhamento com profissionais competentes, além de tratar o tema com toda a comunidade escolar - equipe pedagógica, pais e alunos - através de discussões, vídeos, palestras.
Assistam a essa excelente reportagem exibida no Fantástico sobre a prática do bullying.




Disponível em: www.youtube.com/watch?v=XHEfAW9FIkw



quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Open Source? O que é isso?


         O termo Open Source começou a ser utilizado na década de 80 por alguns programadores para identificar seus programas de software livre, receosos de que o termo “livre” pudesse ser associado à ideia de que, por ser um software gratuito ou de baixo custo, seria de baixa qualidade e sem qualquer tipo de suporte, gerando, assim, uma rejeição por parte das pessoas pouco familiarizadas com a filosofia do software livre ou por parte das grandes empresas, que começavam a demonstrar interesse por esse tipo de produto.
     Open Source é um termo da língua inglesa, que traduzido ao pé da letra significa "fonte aberta", referindo, assim, ao "código-fonte aberto".
     Algumas organizações e diversos fãs do software livre não aceitam muito o uso do termo Open Source, pois acreditam que ele não expressa claramente a importância da liberdade, que está na base desse movimento. 


 
 
     Então, Open Source nada mais é do que um outro nome dado ao Software Livre.
    Segundo Richard Stallman, uma das comunidades históricas mais ativas no compartilhamento de software teria sido a do laboratório do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Dessa experiência pioneira foram extraídos os elementos para a composição do manifesto da economia de software livre, o Manifesto GNU.
Esse manifesto, escrito por Stallman, deu origem a uma nova proposta de produção, distribuição e utilização de programas de computador baseada na liberdade e colaboração.
 
     Software Livre refere-se a quatro tipos de liberdade para os usuários:
 
Liberdade nº 0 - a liberdade de executar o programa para qualquer propósito;
 
Liberdade nº 1 - a liberdade de estudar como o programa funciona e adaptá-lo para as suas necessidades; o acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade;
 
Liberdade nº 2 - a liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo;
 
Liberdade nº 3 - a liberdade de aperfeiçoar o programa e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie; o acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.
 
     A partir dos estudos relativos ao software livre na disciplina EDC 287, pude compreender a lógica cruel e capitalista embutida na venda de software proprietário. Você compra, na verdade, a licença para o uso do software, mas não lhe é permitido o acesso ao código-fonte. Então, é preciso sempre renovar a licença de uso desse software enquanto houver a necessidade de sua utilização. Ou seja, você continuará "sempre" pagando pelo mesmo produto, continuará sempre dependente, porque lhe foi concedida apenas a licença para o seu uso.
 
 
Referências:


FERRARI, Fabrício Augusto. Curso Prático de Linux. São Paulo: Digerati Books, 2007, 128p.

MURILLO, Luis Felipe Rosado. Tecnologia, Política e Cultura na Comunidade Brasileira de Software Livre e de Código Aberto. In: Do regime de propriedade intelectual: estudos antropológicos (organizado por Ondina Fachel e Rebec Hennemann Vergara de Souza). Porto Alegre: Tomo Editorial, 2010, 288p.

www.google.com.br

http://www.opensource.org/

http://www.gnu.org/philosophyfree-software-for-freedom.html

O que é uma "distribuição" do Linux?

     O Linux, como qualquer outro sistema operacional, é composto por um conjunto de programas e comandos que precisam ser organizados, testados e atualizados de acordo com as novas exigências que vão surgindo, gerando uma nova versão ou distribuição.
     Ele pode ser encontrado em diversas distribuições recomendadas para uso em servidores, como Debian, Red Hat, Fedora, Mandrake e Slackware, e poucas destinadas aos usuários domésticos, a exemplo do Kurumin.






 

Kurumin: é uma distribuição brasileira do Linux, baseada no Debian, que roda diretamente a partir do CD (Live CD). É ideal para quem deseja testar uma distribuição Linux. Caso goste, pode ser instalada diretamente no disco rígido.


 
  
                                            
 
 
 
Ubuntu: é uma distribuição do Linux originada na África do Sul.
 

 
Conectiva: é uma das versões brasileiras mais utilizadas no país e na América Latina.
 
 


SuSE: tem como foco principal os usuários domésticos, com instalador fácil de utilizar, chat, fotografia digital, multimídia, editores de textos, redes e desenvolvimento. Alguns dos seus aplicativos mais conhecidos são o Firefox e o Oppen Office.org.




 
   
Debian: é uma das poucas distribuições que não são mantidas por uma empresa. É completamente desenvolvido por voluntários e estudantes universitários.
 


 

Mandrake: é a versão preferida e mais indicada para iniciantes. Baseada no Red Hat, diferencia-se das outras distribuições por ter suas próprias ferramentas de configuração, como Harddrake, para configuração de dispositivos, DrakX, para configuração de vídeo, e DrakFont, para buscar fontes do Windows.



 
 
 

 
Slackware: é muito usada por profissionais experientes no uso do Linux, é praticamente todo configurado em modo texto.
 
 

     Algumas dessas versões do Linux nós utilizamos no nosso dia a dia, como por exemplo, na universidade, em algumas escolas públicas e em órgãos governamentais, sem fazer ideia de que se trata de software livre.
 
Referências:
 
 
FERRARI, Fabrício Augusto. Curso Prático de Linux. São Paulo: Digerati Books, 2007.